09/10/10

Aprender a ver: A regra dos terços

Antes de entrar nas questões puramente técnicas, acho importante abordar um outro tema: a composição.

Há imagens que parecem fazer mais sentido que outras, quando olhamos para elas. Isto não acontece por acaso nem fruto de um acontecimento absurdo e inexplicável; deve-se à forma como a imagem foi enquadrada. É importante não ter coisas a mais que nos distraiam do assunto principal, nem coisas a menos ao ponto de a imagem parecer desprovida de conteúdo. Numa fotografia (ou pintura, ou qualquer outro tipo de imagem) com uma composição cuidada, todos os elementos contribuem de alguma forma para o impacto da imagem final.





Mas como saber qual a melhor composição numa determinada fotografia? Em primeiro lugar, esta é uma ciência um pouco empírica e não creio que o termo melhor possa ser aplicado sem quaisquer reservas. Há sempre espaço para a opinião e preferência de cada um. No entanto, existem algumas regras que podem ajudar a perceber este conceito. Para já, vou abordar apenas algumas que considero mais relevantes, sendo que mais tarde falarei de outras.

Regra dos terços:
É provavelmente a regra mais conhecida e falada na fotografia e a sua explicação é bastante simples.
Imagine-se um rectângulo (tanto pode ser na vertical como na horizontal) que está dividido em três por duas linhas horizontais: havendo informação relevante nesse local, o olhar do observador tende a concentrar-se automaticamente aí. Um exemplo clássico é o dos locutores nos telejornais; os olhos do(a) locutor(a) situam-se sempre perto da linha horizontal imaginária do terço superior. Se nunca repararam neste pormenor, fiquem atentos no próximo bloco de notícias. Outro exemplo clássico é a fotografia de paisagem, onde geralmente o horizonte está sobre uma dessas linhas. Veja-se o exemplo seguinte:
The Intruder, por Diego Veríssimo, no Flickr
Aqui temos o primeiro plano a terminar na linha do terço inferior e o segundo plano a terminar na linha do terço superior, dando harmonia à imagem no seu todo.

Passa-se exactamente a mesma coisa com as linhas (imaginárias) verticais, sendo que os quatro pontos onde as duas linhas se cruzam são frequentemente utilizados para enquadrar um motivo que se queira destacar. Exemplo:
Luís, por Diego Veríssimo, no Flickr
Neste exemplo, os olhos do modelo encontram-se aproximadamente na linha que marca o terço superior da imagem, sendo que um deles está na intersecção da linha horizontal com a linha vertical, tornando-se um ponto de interesse imediato.


Textures, por Diego Veríssimo, no Flickr
Aqui é visível que o elemento principal da imagem é o caracol em primeiro plano. O facto de ele se situar na zona do terço superior facilita a leitura e dá-lhe protagonismo. Colocar o caracol no centro da imagem não teria o mesmo impacto.

Posto isto, é natural que perguntem: "Mas porque é que é assim e não é de outra forma qualquer?"
Esta regra não foi inventada hoje. Há anos que fotógrafos e pintores recorrem a esta e outras orientações pela simples razão de que funciona. Rembrandt e Leonardo Da Vinci são dois exemplos disso mesmo.
É óbvio que não se pretende que passem a seguir esta (ou outra) regra cegamente. É uma óptima forma de aprender a compor e criar imagens com mais impacto, mas deve prevalecer sempre a interpretação pessoal do autor. E cada caso é um caso. Enquadrar sempre rigorosamente pela regra dos terços vai levar a que tenhamos um trabalho "politicamente correcto" do ponto de vista estético, mas completamente monótono e aborrecido. Existe a célebre frase de que "as regras existem para serem quebradas" e de facto, é importante aprendê-las, utilizá-las e saber quando devemos ignorá-las. Em última instância, a única regra que podemos aceitar de forma rígida é a de não haver regras.


Dúvidas, sugestões, ideias?
Usem os comentários.

2 comentários:

  1. Bem, acho que disseste tudo o que havia para dizer! :)
    É importante saber estas regras e também é importante ousar quebrá-las e quebrar também os paradigmas que nos prendem....

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